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Nova plataforma do MapBiomas fornece dados para gestão de bacias hidrográficas

15/05/2025 - 14:32

Com informações abertas e interativas, ferramenta auxilia no desenho de políticas públicas e medidas estratégicas diante da crise hídrica


No fim de março, a rede MapBiomas lançou uma plataforma de bacias hidrográficas para subsidiar decisões técnicas e políticas para a gestão da água diante da crise hídrica. A ferramenta integra imagens de satélites e dados de fontes oficiais, como a Agência Nacional das Águas (ANA), oferecendo uma visão detalhada da dinâmica hídrica no Brasil desde 1985. Todas as informações são disponibilizadas em dados abertos, de modo a facilitar sua utilização em estudos e pesquisas e nas iniciativas de controle social.

O novo módulo permite monitorar a superfície hídrica (rios, lagos e lagoas), a dinâmica do uso da terra (distinguindo áreas preservadas de antropizadas, como as utilizadas na agricultura e mineração), a dinâmica do desmatamento, áreas irrigadas e outorgas para captação de água superficial e subterrânea, com prazos de validade.

A navegação simplificada, por meio de filtros territoriais intuitivos, possibilita a busca de dados por bacias e sub-bacias, comitês estaduais ou federais, e por macro, meso e microrregiões hidrográficas. A sobreposição de camadas de mapas de desmatamento, áreas irrigadas e corpos hídricos, com ajuste de ordem e visibilidade de cada uma, propicia análises integradas das informações, facilitando a identificação de pressões ambientais por bacia. Todos os gráficos e mapas incluem ainda legendas detalhadas, metodologias e fontes, a fim de democratizar o acesso a informações técnicas relevantes.

Mirela Costa, integrante do Comitê da Bacia do Litoral Norte da Paraíba, testemunhou a utilidade do módulo na prática. “Com essa ferramenta, identificamos que 92% do aumento de áreas irrigadas em nossa região estão ligados à cana-de-açúcar. Esses dados são cruciais para revisarmos os nossos planos de gestão.” Comitês de bacias hidrográficas e movimentos sociais podem utilizar a ferramenta na gestão participativa das águas, para revisões de planejamento a partir da identificação de pressões em cada bacia.

Um dos principais avanços da plataforma é a possibilidade de confrontar as outorgas de uso da água com a disponibilidade real e atual das bacias. Com isso, o módulo pode subsidiar a governança na tomada de decisões e no planejamento para adaptação às mudanças climáticas, diante da diminuição da disponibilidade hídrica associada a eventos climáticos extremos e dos conflitos pelo uso da água.

Sobre o novo módulo, Carlos Souza Jr, coordenador técnico-científico do MapBiomas e pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) adiantou: “Já estamos trabalhando na inclusão de novos indicadores, como dados sobre cobrança pelo uso da água e status dos planos de bacia”. As inovações buscam proporcionar uma visão completa da gestão hídrica no país.

O que os dados revelam?

A nova plataforma evidencia uma redução contínua da superfície de água no Brasil. Em 2024, o país apresentou 17,9 milhões de hectares cobertos por água, uma redução de 2% em relação a 2023 e 4% abaixo da média histórica desde 1985. A tendência já é observada desde 2009, com exceção de 2022, único ano com leve recuperação.

Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água, contextualiza os dados. “A dinâmica de ocupação e uso da terra no Brasil, junto com eventos climáticos extremos provocados pelo aquecimento global, está deixando o Brasil mais seco. Esses dados servem como um alerta sobre a necessidade de estratégias adaptativas de gestão hídrica e políticas públicas que revertam essa tendência”. As análises mostram que oito dos dez anos mais secos da série histórica ocorreram na última década.

Enquanto corpos hídricos naturais tiveram redução de 15% desde 1985, reservatórios artificiais (barragens, açudes) expandiram 54%, ocupando 1,5 milhão de hectares adicionais. Esse aumento, porém, não reverteu a tendência geral, já que a maior parte da superfície coberta por água ainda depende de fontes naturais. Essa substituição pode mascarar uma crise hídrica ainda mais profunda.



A situação dos biomas

Apesar de concentrar 12% da água doce do mundo, o Brasil enfrenta disparidades geográficas quanto à sua distribuição. A Amazônia concentra 61% de toda a superfície de água do país, mas em 2023, durante uma seca histórica, perdeu 3,6% de sua área, com 63% das 47 sub-bacias apresentando declínios. As do Rio Negro foram as mais afetadas, com redução superior a 50 mil hectares. Em 2024, o cenário preocupante persistiu: sete meses registraram níveis abaixo da média.

O Pantanal, conhecido como a maior planície alagável do mundo, vive sua pior crise. Em 2024, a superfície hídrica do bioma encolheu para apenas 366 mil hectares, uma queda de 61% em relação à média histórica.

Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica estiveram acima da média de superfície de água: 6%, 11% e 5%, respectivamente. No entanto, o Cerrado, vital para o abastecimento de bacias hidrográficas em todo o país, teve a proporção de água natural reduzida de 63% (1985) para 40% (2024), enquanto reservatórios artificiais, como barragens e áreas de mineração, saltaram de 37% para 60% no mesmo período.

O Pampa, apesar de enfrentar eventos climáticos extremos, manteve sua superfície de água próxima da média histórica, com redução de apenas 0,3% em 2024. Esse relativo equilíbrio, porém, mascara a crescente pressão sobre seus recursos, já que o bioma sofre com estiagens recorrentes durante o verão.

Em contraste, a Caatinga, que abriga 32 milhões de pessoas em uma região tradicionalmente seca, registrou 981 mil hectares de superfície de água em 2024, o maior volume hídrico da última década. No entanto, esse aumento pontual não minimiza os desafios crônicos de abastecimento na região.

Os dados sistematizados reforçam a urgência de políticas públicas regionalizadas, adaptadas às particularidades de cada bacia hidrográfica. O módulo de bacias do MapBiomas oferece subsídios técnicos para orientar ações frente à crise hídrica e as mudanças climáticas, que consideram essas necessidades. Acesse a ferramenta no site do MapBiomas para acompanhar a situação hídrica da sua região, explorar as informações e apoiar ações em defesa das águas.

MapBiomas

Criado em julho de 2015 a partir de um seminário que reuniu especialistas em São Paulo, o MapBiomas se consolidou como uma iniciativa pioneira de mapeamento territorial. O desafio inicial era produzir mapas anuais de uso da terra de forma mais ágil e acessível que os métodos tradicionais, além de reconstruir o histórico das últimas décadas.

Hoje, o MapBiomas reúne uma rede colaborativa de ONGs, universidades e empresas de tecnologia, que produzem mapeamento anual da cobertura e uso da terra desde 1985, monitoramento mensal da superfície de água e cicatrizes de queimadas e alertas de desmatamento em tempo real através do MapBiomas Alerta.


Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: originalmente publicado pelo portal do Projeto Manuelzão
*Foto: Divulgação/MapBiomas