Seguindo a série de entrevistas “O rio que eu cuido”, Mariana Morales e Rogério Sepúlveda entrevistaram um ao outro e contaram como ingressaram na luta pelas águas de seus territórios.
Mariana Morales é ecóloga e mestranda em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua). Foi coordenadora do Subcomitê Rio Taquaraçu por dois mandatos na região onde atua há mais de 10 anos desenvolvendo projetos de recuperação de áreas de preservação permanente e áreas degradadas. Mariana acompanha a restauração ambiental de nascentes e matas ciliares degradadas, como forma de fomentar a qualidade de vida e a sustentabilidade das comunidades.
Rogério Sepúlveda é engenheiro civil especialista em Geografia. Atualmente trabalha com o programa Pró-Manaciais que tem o objetivo de proteger e recuperar microbacias e áreas de recarga na Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Ele atua na gestão das águas desde 2003 quando foi coordenador de mobilização no Projeto Manuelzão. Rogério foi o segundo presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), entre os anos de 2006 e 2013, e tem um grande carinho e cuidado pela bacia.
Mariana entrevista Rogério
Mariana: O que te move a cuidar das águas do seu território? Qual é o território que você cuida?
Rogério: Eu nasci em Sabará e atualmente moro em Belo Horizonte. Mas tenho várias regiões da bacia no meu coração. Eu era engenheiro de estruturas e fui fazer um mestrado na área de geografia na França. Foi quando começou o meu despertar para as questões hídricas. Quando voltei para o Brasil entrei em uma ONG e conheci o Projeto Manuelzão, onde fui coordenador de mobilização por alguns anos. Foi ali que comecei a ter uma visão sistêmica da gestão das águas.
Posso dizer que cuido de toda a bacia do Rio das Velhas! Mas tenho um carinho especial por alguns lugares. Trabalhei muito tempo na região da UTE [Unidade Territorial Estratégica] Rio Taquaraçu onde ajudei a criar o Instituto Pé de Urucum, uma ONG voltada à promoção e ao apoio de ações culturais e socioambientais. Como morador de Belo Horizonte e ex-presidente do CBH Rio das Velhas luto por melhorias no saneamento básico da RMBH. A região do Cipó é outra que tenho eu adoro e a UTE Rio Pardo é um lugar surpreendente que abriga o rio Pardinho, um curso d’água que me encanta e que vou muito com minha filha para descansar e recarregar as energias.
M: Qual foi a sua maior contribuição na sua gestão como presidente do CBH Velhas para bacia?
R: Acredito que foi a efetivação dos Subcomitês como unidades descentralizadas de gestão da bacia e a criação das 23 UTEs. A bacia do Rio das Velhas abrange 51 municípios e quatro regiões com diferentes características. A criação dos Subcomitês permitiu a descentralização da gestão das águas e fortaleceu a atuação do Comitê em toda a bacia.
M: O que você considera ser o ponto “X” para a revitalização e conservação para a bacia do Rio das Velhas?
R: O ponto “X” é ser persistente e continuar os caminhos que estamos trilhando. Desde que comecei a atuar na gestão das águas percebi que trabalhar junto com as comunidades é muito importante. Como presidente do CBH Rio das Velhas consolidei esse modelo de gestão descentralizada da bacia pelos Subcomitês. Então acredito que continuar distribuindo conhecimento e ações pela bacia é o melhor caminho.
M: Qual é o seu maior sonho para a bacia do Rio das Velhas?
R: Tenho o sonho de ter rios que possamos realmente usar e ter contato! Para isso precisamos reduzir a poluição e ter uma população mais consciente com o cuidado com as águas. O sonho de navegar, nadar e pescar no Rio das Velhas não acabou! É uma batalha árdua na qual acredito.
Perguntas Rogério para Mariana
Rogério: Conte um pouco da sua história até atuar na bacia do Rio Taquaracu?
Mariana: Minha trajetória ambiental teve início em 2009 quando fui mobilizadora no Projeto Manuelzão e tive você, Rogério, como coordenador. Desde então tenho desenvolvido ações voltadas para a mobilização, proteção e conservação de área de preservação ou degradadas, sempre na bacia do Rio Taquaraçu e do Velhas.
R: Nesse período o que você acredita que melhorou? E o que mudou em você?
M: Acredito que estamos menos românticos em relação às questões ambientais e temos conseguido um pouco mais de pragmatismo na implementação dos projetos. Os Subcomitês têm muito a evoluir em termos de articulação política ambiental, mas o ganho nesse tempo de atuação foi enorme e temos conseguido desenvolver ações continuadas com os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
R: Quais perspectivas futuras para você e para a bacia?
M: Atuo no Subcomitê de forma voluntária há quatro mandatos, sendo dois como coordenadora-geral, e tenho conseguido contribuir para a melhoria nas questões ambientais na bacia do Taquaraçu. Como profissional tenho conseguido atuar de forma direta na bacia com projetos de recuperação ambiental. Ao longo desses 10 anos em que atuo na bacia percebi que muitas vezes nos perdemos no tempo e acabamos regredindo nas ações de recuperação. Por isso, estou finalizando um estudo que é o meu projeto de mestrado, em que proponho instrumentos para potencializar a geração de serviços ecossistêmicos na bacia do Rio Taquaraçu, através do envolvimento das pessoas.
R: O que você espera para a bacia do Rio Taquaraçu?
M: Espero que a bacia do Rio Taquaraçu, por meio do Subcomitê, consiga evoluir cada vez mais. O CBH Rio das Velhas contratou um estudo para mapear os corredores ecológicos da UTE e acredito que a conectividade dessas áreas trará um ganho enorme para toda a bacia do Rio das Velhas. Assim, o Rio Taquaraçu conseguirá contribuir ainda mais com águas de qualidade!
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Moderação: Luiza Baggio