Revista Velhas Nº11: Esquecidos no campo

03/07/2020 - 9:29

Saneamento rural ainda é grande desafio – tanto para o Brasil, quanto para a bacia do Rio das Velhas


Se nas grandes regiões metropolitanas brasileiras, o saneamento – em especial a coleta e o tratamento de esgoto – é um problema enorme a ser enfrentado, que custa caro à saúde e ao ambiente, nas áreas rurais desse país de proporções continentais o desafio é ainda maior. Mesmo que conseguíssemos cumprir as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), em discussão pelo Ministério das Cidades para resolver a questão até 2033, a previsão é que nas áreas rurais os indicadores chegariam, no máximo, a 77% da população com água potável e 62% com coleta de esgotos. Ou seja, a universalização do saneamento básico nas áreas rurais não é prevista nem num futuro mais longo.

De acordo com o PLANSAB, o custo para universalizar o acesso aos quatro serviços de saneamento básico (água, esgotos, resíduos e drenagem) é de R$ 508 bilhões, no período de 2014 a 2033. Para universalização da água e dos esgotos esse custo é  de R$ 303 bilhões em 20 anos.

O relator especial do Direito Humano à Água e ao Esgotamento Sanitário da Organização das Nações Unidas (ONU) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Léo Heller, explica como assegurar os direitos humanos à água e ao saneamento para as populações rurais. “O caminho para levar o saneamento às áreas rurais está traçado. Ao constatar a histórica negligência dos governos do país para com o saneamento rural e as enormes brechas de acesso entre as áreas urbanas e rurais, o PLANSAB dedicou um dos três programas federais ao saneamento rural.

A mensagem é clara: dados os déficits e as especificidades sociais, econômicas, demográficas e culturais dessas populações, é necessário haver uma focalização nas áreas rurais. Tal programa foi detalhado pela UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] e outros parceiros e é momento de implementá-lo”, esclarece.

Na bacia do Rio das Velhas a situação do saneamento rural também preocupa: 97.903 pessoas não são atendidas pelos serviços de abastecimento de água na bacia e 113.609 não são atendidas pelos serviços de esgotamento sanitário. Destaca-se que em nove municípios da bacia não existe sequer a prestação ou a concessão do serviço de tratamento de esgotos pela respectiva prefeitura, totalizando nesses municípios quase 15 mil pessoas ou 13,2% da população rural não atendida.

Os dados acima são de um estudo elaborado pelo grupo de trabalho de Saneamento Rural formado pela Câmara Técnica de Planejamento Projetos e Controle (CTPC) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) e que foi coordenado pelo analista ambiental do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Túlio Bahia.

“A universalização do saneamento rural na bacia do Velhas ainda é um desafio que demanda a integração de políticas públicas e atores que extrapola as competências e a capacidade de investimentos do CBH Rio das Velhas. No entanto, os membros do Comitê já decidiram que é importante realizar ações de melhorias para o saneamento e o estudo sugere focalizar a população rural de baixa renda, não atendida pelos serviços públicos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, apresentando-se como uma oportunidade de cooperação institucional e de mobilização de recursos financeiros, humanos, tecnológicos, entre outros, em consonância com as metas do PDRH do Rio das Velhas [Plano Diretor de Recursos Hídricos] e do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6: Água e Saneamento”.

Túlio Bahia esclarece que “existem tecnologias disponíveis em termos de alternativas de tratamentos e, devendo-se discutir, as respectivas viabilidade técnica, econômica-financeira e socioambiental para auxiliar na questão do saneamento rural, caso a caso, como por exemplo o Tanque de Evapotranspiração (TEvap), também conhecido como Fossa Verde ou Fossa de Bananeira que é uma solução simples, de baixo custo econômico e de fácil construção e as fossas sépticas biodgestoras”, finaliza.

Diante da necessidade de discutir sobre as tecnologias, modelos e soluções disponíveis para a população rural não atendida pelos serviços de saneamento básico, o CBH Rio das Velhas vai realizar um seminário sobre saneamento rural. O evento vai ocorrer no ano de 2020, mas ainda não tem data definida.

 

Programa Saneamento Brasil Rural O governo federal lançou no dia 03 de dezembro de 2019 o programa Saneamento Rural Brasil, que estabelece diretrizes e metas para a implantação de esgotamento sanitário e abastecimento de água em áreas rurais de todo o país. O governo estima que serão necessários investimentos de quase R$ 220 bilhões até 2038, para execução de obras como abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais. O programa também prevê ações educativas e de gestão. Coordenado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, o programa pretende, pelos próximos 20 anos, realizar obras de infraestrutura em saneamento básico que podem beneficiar mais de 39 milhões de pessoas. São áreas prioritárias para investimentos os distritos municipais, as agrovilas, as comunidades quilombolas, as reservas indígenas e os assentamentos rurais.

 

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio
Fotos: Fernando Piancastelli e Leandro Durães
Ilustração: Clermont Cintra