Minas Gerais registrou uma média de 42 incêndios florestais por dia em 2020. Conforme levantamento do Corpo de Bombeiros, foram 12.640 focos em terras mineiras, de janeiro a agosto deste ano. Os números já ultrapassam os de janeiro a agosto de 2019 (12.528) e a bacia do Rio das Velhas é uma das atingidas.
Em 2020, a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi umas das mais prejudicadas, com 673 focos de incêndio. No Parque Estadual da Serra do Rola Moça as chamas queimaram a vegetação da montanha no limite com Brumadinho por pelo menos dois dias.
O Parque Monumento Natural da Serra da Moeda, também na RMBH, teve cerca de mil dos 2.400 hectares consumidos por um incêndio que durou seis dias, em meados de setembro. Já na cidade de Pedro Leopoldo, parte de uma mata foi queimada às margens de uma rodovia.
O Parque Nacional da Serra do Gandarela não ficou de fora desse triste cenário. Na quinta-feira (17), um incêndio de grandes proporções teve início na região da Cachoeira Chica Dona, se alastrando pela Serra de Ouro Fino, próximo ao distrito de Acuruí, queimando uma área considerável dos campos da região.
Veja as fotos do incêndio no Parque Nacional da Serra do Gandarela:
Já próximo à foz do Rio das Velhas, o fogo atingiu o Parque Estadual Serra do Cabral no dia 16 de setembro. Segundo informações do Instituto Estadual de Florestas (IEF), as chamas foram identificadas no monitoramento aéreo realizado na região e começou na zona de amortecimento da unidade de conservação, em Joaquim Felício. As causas ainda não foram identificadas e o IEF informa que ainda não foi possível dimensionar danos e o tamanho da área atingida.
De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Pedro Aihara, a situação é delicada. “O momento é crítico e estamos em alerta até o final do período de estiagem, época em que há uma redução da umidade do ar e um aumento médio da temperatura. Devido à topografia de Minas, temos ainda a formação de correntes de vento, que contribuem para a propagação do fogo, aumentando a área atingida pela queimada de forma rápida”, explicou.
Pedro Aihara afirma ainda que a população deve se conscientizar de que as queimadas afetam diretamente a qualidade de vida de todos. “As áreas florestais atingidas pelos incêndios abrigam nascentes que dependem dessa vegetação. As queimadas podem afetar o sistema hídrico das cidades, além de prejudicar a qualidade do ar e contribuir para o agravamento das doenças respiratórias”, esclareceu o tenente.
Controle de incêndios
Em Minas Gerais, o controle dos incêndios é realizado por militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, brigadistas do Instituto Chico Mendes (ICMBio), voluntários, equipes do Exército Brasileiro e do Instituto Estadual de Florestas (IEF), com o apoio de aeronaves.
O analista ambiental do ICMBio e instrutor da brigada de incêndio do Parque Nacional da Serra do Cipó, Edward Elias Junior, esclarece o que é preciso para evitar incêndios em áreas florestais. “Para fortalecer as ações dos brigadistas, é necessário que este importante tema extrapole as esferas da conservação e que sejam tratados com a devida importância, pois os incêndios afetam setores como a agricultura, economia, saúde e o bem-estar social. Também é importante que as queimadas deixem de ser tratadas como pauta apenas no período seco, como catástrofe a ser noticiada. Além disso, é preciso fornecer informações e conhecimentos sobre as ações de prevenção, o uso adequado e ecologicamente correto do fogo e as boas práticas que toda a população pode adotar para evitar os incêndios no período mais seco do ano”.
O mundo em chamas
Uma onda de calor sem precedentes tem intensificado as queimadas numa escala nunca vista antes. Nos EUA, França e Austrália os incêndios florestais bateram recorde e já fizeram vítimas. No Brasil, desde maio focos intensos de queimadas ocorrem na Amazônia, Pantanal e Cerrado. Com a diminuição das chuvas, o número de focos e a intensidade do fogo aumentam em escalas exorbitantes.
Dados da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, e do Sistema Copernicus, da União Europeia, revelam que os incêndios em Nova Gales do Sul (Austrália), no Ártico Siberiano, na costa oeste dos Estados Unidos e no Pantanal brasileiro foram os maiores de todos os tempos, com base nos 18 anos de dados sobre incêndios florestais globais compilados pelas organizações.
O fogo em paisagens naturais, que na maioria das vezes tem origem na ação humana, é geralmente usado para limpar áreas para o uso agropecuário e também no processo de desmatamento. Por isso, fogo e desmatamento têm tudo a ver. Até porque, floresta saudável é mais resistente ao fogo.
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia é um reservatório de carbono vital que diminui o ritmo do aquecimento global. É também o lar de cerca de 3 milhões de espécies de plantas e animais e 1 milhão de indígenas. No entanto, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam que o número de incêndios na Amazônia aumentou 28% entre julho de 2019 e julho de 2020.
Ao sul da Amazônia, no Pantanal, os incêndios também estão intensos. O fogo já destruiu 15% da região, com 2,3 milhões de hectares. De acordo com dados do IBAMA, desde o início do ano até o último domingo (20/09) a área queimada do Pantanal alcançou 3.179.000 hectares, o equivalente a 21,2% do bioma. Foram quase 16 mil focos de incêndios, o maior número de queimadas desde 1998, quando o INPE começou a contabilizar essas estatísticas.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Luiza Baggio
Fotos destaque e álbum: Brigada da AMDA- Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente e Marcos Paulo Nascimento
*Foto: Vitor Morylama e Fernanda Ligabue/Greenpeace Brasil