O Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) – Campus Santa Luzia promoveu, nesta terça-feira (31), a exibição do documentário “Alto Rio das Velhas: sete cidades, um destino”, dirigido pelo jornalista Otávio di Toledo e lançado em 2020, em Santa Luzia.
A atividade integrou o Projeto França-Brasil, convênio firmado pelo IFMG, em 2020, com o CFA Agricole Public des Hauts de France. Um grupo de seis estudantes e três servidores da instituição de ensino francesa, que atuam na área de recursos hídricos, está em Santa Luzia e participou da atividade. Além dos alunos franceses, a comunidade acadêmica do IFMG também acompanhou a atividade.
O evento, que contou também com um debate sobre a obra, teve a presença da presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, do jornalista e diretor do documentário, Otávio di Toledo, além de Regina Torres, do Subcomitê Poderoso Vermelho, e membros das equipes de mobilização e comunicação social do CBH Rio das Velhas. Wemerton Evangelista, diretor-geral do campus Santa Luzia, e o professor Daniel Miranda representaram a instituição de ensino no evento.
Abertura e exibição do documentário
Logo no início, o diretor geral do campus cumprimentou os presentes e ressaltou a importância do evento e da parceria com a instituição francesa. “Em 2020, nós iniciamos essa parceria, que vem se consolidando cada vez mais. Esse projeto é uma das ações mais importantes que desenvolvemos aqui no Campus no setor de pesquisa e extensão, inclusive vamos garantir, para este ano, a ida de cinco alunos nossos para a França”. Wemerton Evangelista agradeceu a presença de todos e colocou a instituição à disposição para realização de novos eventos semelhantes.
Após a fala do diretor, o documentário foi exibido em português, com legendas em francês. A peça, conduzida por Otávio e intitulada ‘Alto Rio das Velhas: sete cidades, um destino’, percorre a parte alta da bacia hidrográfica, desde sua nascente, no Parque Municipal das Andorinhas, em Ouro Preto, até o fim da região fisiográfica, em Santa Luzia, mostrando suas belezas e seus problemas, como poluição e assoreamento. Além disso, a história do povoamento e a cultura da região também é tratada no filme.
O documentário passou por Ouro Preto, São Bartolomeu, Glaura, Cachoeira do Campo, Acuruí, Itabirito, Rio Acima, Raposos, Nova Lima, Sabará e Santa Luzia, destacando a arte, a arquitetura do século XVIII, a produção de doces típicos, como a goiabada de São Bartolomeu, as ações de educação ambiental na região, ações de preservação ambiental, como a construção de barraginhas, e também problemas, como despejo de esgoto e de rejeito irregular da mineração no rio.
O documentário destaca também a qualidade das águas que nascem na Serra do Gandarela, e os problemas do encontro do Rio das Velhas com o Ribeirão Arrudas, que traz boa parte do esgoto de Belo Horizonte, em Sabará. A peça contou com a participação de pessoas diretamente ligadas ao CBH Rio das Velhas, seus Subcomitês e Câmaras Técnicas, como Ronald Guerra, Odilon de Lima, Maria Teresa Corujo, Glauco Gonçalves e Benedito Rocha.
Confira mais fotos da atividade:
Debate
Pouco antes da abertura do debate, Otávio di Toledo destacou a importância do filme e a necessidade de atenção à atual situação do Rio das Velhas. “Continuamos nessa luta, tentando divulgar o documentário, e torcemos para que a sociedade se envolva cada vez mais com essa pauta da preservação ambiental. É uma esperança que tenho. Falo que o grande problema é quando acaba a água – quando temos a água ainda é possível adotar medidas de preservação, como a construção de ETEs e proteção de nascentes”.
Formaram a mesa para o debate Otávio di Toledo, Poliana Valgas, Regina Torres e Luciana Gomes, da equipe de mobilização social. Na abertura, Poliana parabenizou a produção do documentário e lembrou a extensão do rio, dos impactos ambientais que ele sofre e também dos pontos positivos ao longo de toda sua extensão. “A bacia compreende 51 municípios, ao longo desse território de mais de 800 km, esse rio recebe diversos impactos. Apesar disso tudo, destaca-se aqui a intensa mobilização social ao longo da bacia para recuperação deste território”.
Poliana também destacou a gestão descentralizada do Comitê e a necessidade de políticas públicas e do envolvimento de empresas que atuam na bacia para a preservação ambiental. “Nosso Comitê é referência, o único que possui, atualmente, esse modelo de gestão descentralizada, que garante a participação da sociedade nos processos decisórios em torno da água. Temos os Subcomitês, que permitem a participação de pessoas de cada território, até porque, os problemas que temos no Alto Velhas não são os mesmos que temos em Buenópolis, Várzea da Palma [cidades do Baixo Velhas], por exemplo”.
Respondendo a uma questão de Otávio, Poliana destacou que o cuidado com a bacia depende também do pagamento da Cobrança pelo Uso da Água. “Essa Cobrança acontece na bacia do Rio das Velhas há pelo menos 13 anos. Hoje o recurso é insuficiente e ainda temos a questão da inadimplência, que está em 50%. É uma situação complicada e inclusive estamos, neste ano, atualizando o valor da cobrança, para que esta arrecadação cresça um pouco mais”, completou.
Regina Torres, coordenadora do Subcomitê Poderoso Vermelho, destacou a relevância do documentário. “Uma semente poderosa, voltada à preservação ambiental da bacia do Rio das Velhas, que ela frutifique e gere frutos belíssimos”. Ela também falou sobre a estrutura do Subcomitê Poderoso Vermelho e sobre sua atuação em seu território, que compreende os municípios de Sabará, Santa Luzia e Taquaraçu de Minas. “O Subcomitê Poderoso Vermelho trabalha como um parlamento regional de discussão sobre a gestão dos recursos hídricos, em apoio ao CBH Rio das Velhas. Temos fóruns permanentes de discussão e reuniões mensais para análise e encaminhamento dos problemas locais levantados, discutimos também destinação de recursos sólidos e produção de água, por exemplo”, ressalta.
Luciana Gomes abriu sua fala destacando a presença feminina na mesa e parabenizou a produção do documentário. “Fiquei muito feliz em ver ali no documentário alguns companheiros que são atuantes no CBH Rio das Velhas, são atuantes também nos territórios, são pessoas que diariamente estão ali à frente de ações de melhoria do rio”. Luciana falou sobre sua trajetória no “mundo das águas”, destacando sua trajetória acadêmica e atuação como analista e mobilizadora social do Comitê. “Eu venho lá do Jardim Felicidade, onde o córrego Tamboril tinha e ainda tem parte de seu curso d’água bastante poluído, e a partir disso eu pensei ‘tenho que fazer alguma coisa para melhorar essa situação’, então quis ir adiante e saber mais sobre essas responsabilidades e corresponsabilidades em relação a essa degradação”, comenta.
Luciana seguiu em consonância à fala de Regina, sobre a gestão descentralizada. “O quão forte e importante é esse trabalho regionalizado que acontece no Comitê, gerenciar e arrecadar recursos em território tão grande não é um trabalho fácil, daí o importante papel da equipe de mobilização e dos Subcomitês, nessa articulação política e social”.
Debate mobilizou representantes do Comitê, estudantes franceses e comunidade acadêmica do IFMG
Considerações finais
Kevin Boulangers, aluno do CFA Agricole Public des Hauts de France, falou sobre a experiência, e destacou a importância do projeto contínuo de intercâmbio entre França e Brasil, desenvolvido pelo IFMG, e ressaltou também a importância da “mobilização e conscientização ambiental, dentro das salas de aula, das crianças e jovens, que, num futuro próximo, serão os tomadores de decisões a nível governamental”. “Isso pouco a pouco vai sedimentando o caminho às melhores práticas ambientais”, completou.
Poliana e Regina encerraram o encontro agradecendo o convite e ressaltando a importância do documentário. “A gente só vai revitalizar esse rio se pensarmos em cada território. É agindo localmente que contribuímos com a melhoria desse rio, e que bom ter a academia e a imprensa perto nesse trabalho”, destacou Poliana.
O professor do IFMG – Campus Santa Luzia, Daniel Miranda, que traduziu simultaneamente todo o encontro, também deixou uma mensagem ao final. “É um trabalho para transformarmos a realidade a longo prazo. Sozinho, a gente não muda o mundo, agora se todo mundo fizer um pouquinho, lá na frente talvez seja possível atingir a recuperação e a saúde de nossos rios”.
Projeto França-Brasil
Entre 27 de janeiro a 04 de fevereiro, período em que permanece no Brasil, o grupo francês participa de inúmeras atividades previstas em programação específica, incluindo seminário de projetos de pesquisa, visitas técnicas, trabalhos de campo na região de atuação do projeto (Ocupações da Izidora, entre Belo Horizonte e Santa Luzia), bem como atividades culturais e palestra/debate de caráter técnico.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Arthur de Viveiros
*Fotos: Bianca Aun