Os mais de 100 dias sem chuva na região do Alto Rio das Velhas, de onde vem a água que abastece mais da metade da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), aceleram o ritmo das reuniões do Convazão, o Grupo Gestor de Vazão liderado pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).
Integrado também por representantes da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e das mineradoras Vale e AngloGold Ashanti, o colegiado, que voltou a se reunir escassos 13 dias após o último encontro, tem a missão de pensar soluções para a segurança hídrica de um contingente que soma mais de 2 milhões de habitantes.
O engenheiro hidrólogo José Alexandre Coelho, do Serviço Geológico do Brasil (SGB), detalhou os motivos da desativação da unidade de medição de Honório Bicalho, que fazia a leitura da vazão do rio pouco acima da Estação de Bela Fama, da Copasa, onde é captada a fio d’água o insumo que abastece parte considerável de BH e região.
Segundo Coelho, o repetido colapso de equipamentos provocado por volumosas cheias e problemas causados por assoreamento e dragagem geraram dificuldades intransponíveis para que se ajustasse a chamada curva-chave (que relaciona a altura da lâmina d’água com sua vazão correspondente), fazendo com que a unidade passasse a oferecer resultados não representativos da realidade.
Faltam dados
Com isso, e ainda as intervenções de manutenção feitas pela Copasa na área de Bela Fama, como explicou o Superintendente de Desenvolvimento Ambiental da companhia, Nelson Guimarães, “para retirar sedimentos e garantir a qualidade da operação”, o Convazão perdeu um ponto de referência sobre a vazão do Rio das Velhas naquela altura de seu curso.
Apesar de terem muita “assertividade nas medições de vazão captada”, como observou Guimarães, não há um controle permanente e preciso sobre a vazão residual (a água que desce o rio para as dezenas de outros municípios abaixo), eis que restam apenas “medições esporádicas de descarga líquida a jusante”, conforme explicou Roberto Alves, da Copasa.
Entre Rio Acima e Bela Fama, há que se considerar, afluem ao Velhas o Rio de Peixe e o Ribeirão Macacos, além de outros mananciais menores, o que permite supor um acréscimo entre 15% e 20% nos números reais em Bela Fama.
Como o engenheiro do SGB informou, de acordo com “estimativas feitas a partir da Estação de Rio Acima, cerca de 10 km a montante de Bela Fama, a vazão total estaria na casa dos 10,41 metros cúbicos por segundo” (m3/s) – cada metro cúbico equivale a mil litros – em 1º de agosto.
Considerando que a Copasa retira, em média, mais de 7 m3/s em Bela Fama, e que a outorga concedida para a captação determina que a vazão residual mínima seja de 3,04 m3/s, Renato Constâncio, secretário do CBH e representante da Cemig, alertou: “Estamos próximos do limiar”.
Mãos à obra
A primeira medida para evitar cenários mais drásticos, como de crise de abastecimento e racionamento na RMBH, vem do Sistema Rio de Peixe, operado pela AngloGold Ashanti.
Após tratativas a serem ajustadas com a Copasa nos próximos dias, calcula-se que até 2,39 m3/s possam ser aportados a Bela Fama durante o mês de agosto, calculou o representante da mineradora, Weider de Oliveira.
Outra iniciativa, “extremamente importante para a Copasa e o CBH”, ressaltou Nelson Guimarães, é a parceria com o SGB que vai elaborar plano de trabalho para controle de vazão, passando por medições mais frequentes e pela construção de parâmetros de correlação entre a vazão medida em Rio Acima e a de Bela Fama, após a entrada das águas dos mencionados afluentes.
Sérgio Neves, da Copasa, lembrou que “é importante comprometer a empresa Mang S.A., nova proprietária da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Rio de Pedras, único barramento no Alto Velhas, em Itabirito, a informar as vazões a montante e a jusante e o volume útil da represa”.
Renato Constâncio esclareceu que a diretoria do CBH Rio das Velhas vai formalizar em ofício à AngloGold a necessidade de ajuste de vazão e cobrar mais presença e proatividade por parte da Mang nos esforços de aliviar as agruras do período da seca.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Paulo Barcala
*Foto: Leo Boi