Localizada na Bacia do Rio das Velhas a jusante da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Sete Lagoas capta 45% da água para abastecimento de sua população diretamente do Rio das Velhas, já comprometido com a poluição da capital. Conhecido pelo seu alto nível de autodepuração, o rio, no entanto, sofre também nessa região, uma vez que 90% do esgoto da cidade é lançado sem tratamento nos seus afluentes, como o Ribeirão Matadouro, que deságua no Ribeirão Jequitibá e daí no Rio das Velhas. Na cidade de cerca de 240 mil habitantes, a empresa responsável pelo saneamento é o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).
Captação e tratamento da água para abastecimento
De acordo com o site da empresa, 99.9% da população é atendida com um volume de 25.576.000 m3/ano de água tratada, dos quais são consumidos 15.345.250 m3 anualmente (dados do SNIS). A captação ainda é feita majoritariamente do subsolo (55%), através de 105 poços, enquanto o restante é captado diretamente do Rio das Velhas no município de Funilândia, cerca de 27km. A captação superficial, por usar a gravidade a seu favor (ao contrário da captação feita por poços tubulares profundos), é mais eficiente, ainda que a segunda seja de melhor qualidade. O tratamento é feito por duas Estações de Tratamento de Água (ETAs).
Embora situada numa região cárstica, com águas subterrâneas de excelente qualidade, Sete Lagoas precisa enfrentar a água poluída entregue pela RMBH no Rio das Velhas. Em períodos de chuva, muitos detritos acumulados na capital e cidades do entorno são carreados para o principal rio da bacia. Essa situação faz com que, muitas vezes, a captação de água do rio seja interrompida, deixando a população da cidade apenas com o que se capta através de poços tubulares profundos e do reservatório de água com capacidade para 10 milhões de litros, como aconteceu, por exemplo, em outubro do ano passado.
Nuna Oliveira, Gerente de Engenharia do SAAE Sete Lagoas, desenha o panorama: “Sete Lagoas está a jusante de vários outros municípios, incluindo Belo Horizonte. Temos um controle rigoroso. Nossas águas, além de ser tanto água de poço quanto a água do Rio das Velhas, além dela ser monitorada diariamente pelo SAAE, passa também por um controle da vigilância sanitária municipal e estadual. Então, após o tratamento, a qualidade da água é impecável, mas às vezes é uma água que chega com uma carga orgânica que nos leva a parar o tratamento”.
Captação e tratamento de esgoto
Sob o aspecto do tratamento de esgoto, a situação de Sete Lagoas é mais grave. Cerca de 97% do esgoto produzido é coletado. No entanto, apenas 10% é tratado em sete mini-Estações de Tratamento de Esgoto (mini-ETEs) espalhadas pela cidade. Os outros 90% dos efluentes são despejados in natura em córregos como o Ribeirão Matadouro. Todo esse material vai parar no Rio das Velhas, carreado pelo Ribeirão Jequitibá, dificultando a autodepuração do rio e aumentando a poluição de um curso d’água já deteriorado durante o percurso pela Região Metropolitana.
“É essa água que o Ribeirão do Matadouro está recebendo. O Córrego dos Tropeiros é outro também que recebe esgoto sem tratamento. Essa água contaminada chega no Jequitibá, a qualidade da água do Jequitibá cai e aí pega todos esses municípios à frente como Funilândia, a própria cidade de Jequitibá, até que chega lá na foz do Velhas”, conta Marley Beatriz de Lima, Coordenadora do Subcomitê Ribeirão Jequitibá.
Em 2021, o Projeto Bacias & Florestas, parceria entre o World Wildlife Fund (WWF-Brasil) e a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev), emitiu um relatório sobre a condição dos cursos d’água da região. Através de 36 pontos de monitoramento nos rios da sub-bacia do Jequitibá, as análises concluíram que o Índice de Qualidade da Água (IQA) era razoável para seis locais, ruim para 26 deles e péssimo para os quatro restantes. Destes últimos, três pontos de monitoramento estão no Ribeirão do Matadouro.
“Em nenhum dos pontos a qualidade da água foi boa. Mas o Matadouro é uma coisa, assim, horrorosa, porque ele é o principal. Nós temos entrada de água boa, do Paiol, das Áreas de Proteção Ambiental. Mas na hora que sai, é realmente complicado. Aí tudo depende da ETE”, considera Marley. A ETE a que ela se refere é a ETE Matadouro, que está em construção desde 2018. Quando inaugurada, ela teria a capacidade para tratar todo o esgoto da cidade, segundo o site da Prefeitura de Sete Lagoas. As obras estão previstas para serem finalizadas em dezembro deste ano.
Registro da construção da ETE, feito em 2018
“É uma obra que foi orçada em 2012 em R$ 69 milhões. Hoje sabemos que não se faz uma ETE desse porte, mas o município, a autarquia municipal, junto com o governo municipal estão fazendo de tudo para concluir as obras, buscando financiamento externo, recursos próprios e trazer todos os investimentos para que essa ETE esteja em operação ainda nesse ano de 2023. Por isso, muitas das outras obras necessárias têm sido adiadas, porque precisamos direcionar nossos recursos financeiros para a conclusão dessa obra”, esclarece Nuna.
Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Leonardo Ramos
*Fotos: Leo Boi; Bianca Aun; Miguel Aun