Vale pretende ampliar minas em área de produção de água para a RMBH

01/10/2021 - 12:22

A mineradora Vale anunciou no início de setembro o projeto de expansão das cavas das minas Tamanduá e Capitão do Mato, ambas localizadas em Nova Limas e que fazem parte do Complexo Vargem Grande. As duas minas ficam próximas da Estação Ecológica de Fechos, responsável pelas águas que abastecem aproximadamente 280 mil pessoas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A Vale realizou reunião pública virtual, no dia 28 de setembro, para dar ciência e esclarecer dúvidas da comunidade sobre o empreendimento.

As duas minas terão uma vida útil de 16 anos, com uma capacidade de produção de 17 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Ao mesmo tempo, serão gerados 159,5 milhões de toneladas de estéril, que serão depositadas em grandes pilhas próximas aos bairros e condomínios da região.

Além da expansão das cavas de Tamanduá e Capitão do Mato, o projeto também prevê a ampliação da Pilha de Disposição de Estéril (PDE)Extrativa, com aumento de capacidade de disposição de estéril em 30 milhões de metros cúbicos, obras em trechos da estrada de acesso a Honório Bicalho e realocação de linhas internas de transmissão de energia e subestações. O processo de expansão se encontra em fase de licenciamento, junto aos órgãos ambientais.

O secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, alertou durante a reunião pública virtual sobre a insustentabilidade do projeto. “A expansão das minas Tamanduá e Capitão do Mato destruirá uma área de recarga hídrica, os corredores ecológicos da região, além de devastar todo um geosistema que nunca mais será recuperado. Não existe justificativa para impactar ainda mais a região com mineração, especialmente pela importância dos mananciais que lá se encontram para o abastecimento de água. Vivemos uma crise hídrica e o essencial neste momento deveria ser preservar a vida. Caso a ampliação ocorra, chegará um momento em que não haverá água para a população”, destacou Polignano, que disse também que o rebaixamento do lençol freático proposto pela mineradora é inadmissível.

 

Moradores de Nova Lima e RMBH demostraram insatisfação com a ampliação das minas, durante a reunião virtual, e querem impedir a expansão da mineração na região.

Impactos da expansão

 O relatório de impacto ambiental da Vale, apresentado no processo de licenciamento para a expansão das atividades, considera os danos ambientais. Segundo o documento, disponível no site da empresa, em 10 anos, haverá interferência na vazão dos cursos d’água com redução nos córregos de Fechos, Tamanduá, Ribeirão Capitão do Mato e Rio de Peixes. Em 43 anos a situação será ainda mais grave com o aprofundamento em 20 metros do Ribeirão Capitão do Mato, além da tendência de redução na vazão deste manancial e no Rio de Peixes e Córrego Boiadeiros.

Sendo assim, o uso da água nas operações da Vale diminuirá ainda mais o nível dos aquíferos e a vazão dos cursos d’água, que já sofreram reduções com a atividade minerária. A mineração de áreas que escoam para os córregos de Fechos, e dele para o ribeirão Macacos, afluente do Rio das Velhas, irá reduzir o volume de água que flui para a bacia de Fechos. A qualidade da água e a vida aquática serão afetadas pelo lançamento de efluentes e a retirada de vegetação, avanços de lavra e remoção de minério, que expõem o solo à ação das chuvas e à contaminação.

O relatório também admite perda de áreas de floresta e campos, podendo haver perda da biota e reflexo para espécies endêmicas, só encontradas na área. O território da Estação Ecológica de Fechos se encontra na área indiretamente afetada pelas obras quanto aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, unidades de terreno, meio biótico e ruído.

Parte da estação está na mancha de impacto na qualidade do ar e cerca de 400 hectares de suas áreas naturais se tornarão áreas modificadas pelo homem.  A título de comparação, esse é o dobro da área definida para ser adicionada à Estação Ecológica de Fechos no projeto de lei que pleiteia sua expansão.

 

Expansão da Estação Ecológica de Fechos

 A Estação Ecológica de Fechos é uma unidade de preservação natural localizada em Nova Lima, que abriga a bacia do córrego de Fechos, florestas de Cerrado e Mata Atlântica e rica fauna ameaçada de extinção. Suas águas abastecem a RMBH, no eixo sul. Um projeto de lei (PL) para ampliar a estação ecológica tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Atualmente, a Estação de Fechos abrange uma área de 602,95 hectares e o PL sugere uma ampliação de 222,12 hectares.

Entre 2018 e 2019, o CBH Rio das Velhas desenvolveu o projeto hidroambiental “Fechos eu Cuido”, com ações de mobilização social para sensibilizar a sociedade em torno da estação ecológica. O projeto promoveu uma série de ações para discutir o potencial hídrico e a expansão da Estação Ecológica de Fechos.

O que diz a Vale

A Vale informou na reunião virtual que o projeto contempla uma série de programas relacionados à preservação do meio ambiente e segurança das operações e das comunidades, como programa de controle de erosão e de monitoramento geotécnico, hídrico e de fauna, além de resgate de fauna, plano de recuperação de áreas degradadas.

Segundo Karina Rapucci, gerente-executiva do Complexo Vargem Grande, o empreendimento é necessário para a continuidade das operações da Vale em Nova Lima. “Esse projeto aproveita as estruturas já existentes no complexo, como usinas, pátios e sistema logístico para escoamento da produção, reduzindo o impacto ambiental. Representa também a manutenção das atividades econômicas na cidade, como a arrecadação de tributos e impostos, além da criação e manutenção dos postos de trabalho”, explica.

 

 


Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Luiza Baggio