Visita mostra como os rios urbanos “brotam” em Belo Horizonte

26/06/2019 - 20:04

Como parte da programação da Semana do Rio das Velhas, que acontece até 29 de junho pela bacia, a atividade “Como nascem os rios da cidade?” foi realizada nesta terça-feira (25) na capital mineira e levou participantes para uma visita por três nascentes revitalizadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), que integram as bacias do Ribeirão Arrudas e Ribeirão Onça.

Presentes em pontos diversos da cidade, as nascentes recuperadas com uso do recurso da cobrança pelo uso da água demonstraram três estágios diferentes de conservação e os desafios e vulnerabilidades que enfrentam ao estarem inseridas dentro do contexto urbano de uma grande cidade que é Belo Horizonte.

Localizada no bairro Havaí, a primeira nascente visitada fica na região do córrego de Cercadinho e integra a bacia do Ribeirão Arrudas. “É uma nascente que foi um desafio para ser recuperada porque ela traz uma série de problemas que são relativos a ocupação da cidade. A gente tem ocupação irregular, despejo de esgoto e lixo na área. A recuperação foi feita, mas as dificuldades de mobilização continuaram”, explica Cristiano Abdanur, conselheiro do Subcomitê Arrudas que recebeu os visitantes. Segundo ele, a construção de um lava-jato ao lado da nascente provocou a drenagem e impactou a obra, o que deixa claro que o grande desafio desses projetos de recuperação de nascentes é realizar a construção de um elo de mobilização com a comunidade que possibilite que os próprios moradores se transformem em cuidadores das nascentes e se envolvam na sua manutenção.

Veja as fotos da visita:

A segunda nascente que recebeu a visita do grupo está localizada no Parque Ecológico do Brejinho, no bairro São Francisco e faz parte da microbacia do Córrego São Francisco da bacia do Ribeirão Onça. Com exposição de fotos e trabalhos desenvolvidos por estudantes preparados com apoio de Lindaura Santos, que já integrou o Subcomitê Ribeirão Onça, os visitantes puderam conhecer um local com histórico de luta e envolvimento social desde 1997, fruto do desejo de moradores e ambientalistas em preservar suas nascentes e transformar a área em um espaço de lazer e socialização para a população. Em 2006, o parque recebeu o investimento de R$ 2,25 milhões do Orçamento Participativo Digital para ser construído, porém a obra não foi finalizada e o que foi realizado está sofrente depredação e abandono no local.

Para mudar um pouco esse contexto, há poucos meses estudantes, com apoio da prefeitura e dos moradores do entorno, começaram um projeto no local. “A gente está desenvolvendo aqui algumas atividades envolvendo agroecologia. Já fizemos alguns mutirões e a ideia é aproveitar esse espaço, que é público e que, por muito tempo, foi negligenciado, e revitalizá-lo. A gente vê aqui um lugar com muito potencial, de ser um lugar de encontro, de cultura, de muita coisa boa”, conta Lívia Silva Pereira, estudante de Ciências Socioambientais. Junto com Júlia Dias Rodrigues, também estudante de Ciências Socioambientais e outras pessoas, elas integram o Grupo de Agroecologia no Brejinho, que conta com 40 participantes. Segundo Júlia, que diz sonhar com um parque agroecológico, no terreno já foram plantadas mudas de jabuticaba, abacate, banana, manga, milho, taioba e outros alimentos.

A última parada da visita guiada pelas nascentes urbanas de Belo Horizonte foi no Parque Nossa Senhora da Piedade, no bairro Aarão Reis, que também integra a bacia do Ribeirão do Onça. Recebidos pela conselheira do Subcomitê Ribeirão do Onça, Majô Zeferino, uma das responsáveis pelo processo de criação e transformação do parque, os visitantes puderam ver um exemplo bem sucedido de preservação de nascentes e melhoria da qualidade de vida da população. Uma luta que começou na escola, junto com os alunos, e que conseguiu transformar o projeto em realidade. “Nós temos muitas nascentes que foram recuperadas e aqui se tornou um modelo de revitalização de córregos. A qualidade de vida do córrego Nossa Senhora da Piedade limpo, com as nossas nascentes à mostra, com nosso espelho d’agua, contribuiu muito para melhoria de vida da população. A gente não tinha um ambiente para de lazer e hoje nós temos tudo em um lugar só. A preservação da água, a qualidade de vida para os moradores, a vegetação de volta, a fauna e a flora”, conta Majô, que também é moradora do local.

Realizada em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, a atividade de visita às nascentes da cidade foi uma oportunidade de expandir o trabalho realizado pelo comitê ao ampliar essa informação para outros grupos e coletivos da cidade. “A gente teve um público bem diversificado, de nível médio, de ensino superior e esse público não tinha ideia que tinha essas nascentes urbanas em bairros afastados de Belo Horizonte”, explica Luciana Gomes, mobilizadora do Comitê e organizadora da atividade.

Para Francisco Melo, gerente de Educação Ambiental da Prefeitura de Belo Horizonte, a parceria com o CBH Rio das Velhas fortalece de educação ambiental realizado pela secretaria. “A preservação de nascentes e de rios urbanos é muito importante, haja visto as experiências internacionais como a recuperação do rio Tamisa, em Londres. A gente precisa aprender a fazer isso aqui em Belo Horizonte, principalmente porque esses rios que a gente tem aqui, o Arrudas e o Onça, desaguam no São Francisco”, explica o gerente.

 

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michelle Parron
Fotos: Michelle Parron