Foi realizada, na última segunda-feira (09), um importante intercâmbio entre os Subcomitês Ribeirão Jequitibá e Ribeirão Onça, vinculados ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).
O encontro entre representantes e técnicos ocorreu no município de Jequitibá e teve como objetivo a troca de experiências para a preservação e recuperação de nascentes, ação que vem sendo realizada de forma exitosa na sub-bacia do Ribeirão Onça, que compreende parte das cidades de Contagem e Belo Horizonte. Com visita de campo, foi possível identificar ameaças reais, assim como a mobilização de moradores para garantir a sobrevivência das nascentes.
O sitiante Geraldo Magela Pontelo notou que córregos estavam secando em Jequitibá e buscou ajuda. Segundo ele, foi percebido carreamento de material oriundo de intervenções de um empreendimento da região. “Quando detectamos que o cascalho estava descendo para dentro da nascente, buscamos ajuda da Prefeitura de Jequitibá. Promovemos o cercamento e construímos paliçadas para minimizar o impacto, mas esperamos a ajuda de pessoas qualificadas para tomarmos as medidas mais acertadas”, relata.
Para ele, as nascentes têm que ser muito bem preservadas. “Estamos vendo os danos causados na região, como o desmatamento, que está acabando com vários córregos. Se tivermos alguma consciência, podemos garantir o futuro dos nossos netos sem escassez de água”, completa.
Com o vizinho Marciel Gonçalves da Silva, há dois anos, eles investem força física e recursos financeiros para salvar as nascentes e cursos d’água que conseguiram identificar. “Nunca parou de correr água no Córrego Lagoa Seca. Reunimos nós dois, cuidamos da retirada do gado que pisoteava todo a nascente e o cercamos. No entanto, precisamos de orientação para conseguimos revitalizar nossas nascentes da maneira correta”, endossou Marciel.
A presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Poliana Valgas, acompanhou os trabalhos. Ela, que também é secretária de Meio Ambiente e Saneamento de Jequitibá e conselheira do Subcomitê local, falou sobre a importância do intercâmbio com o Subcomitê Ribeirão Onça. “A questão da preservação e recuperação das nascentes é uma demanda real não só de Jequitibá mas de vários territórios da bacia do Rio das Velhas e a expertise do [Subcomitê] Ribeirão Onça no cadastramento e caracterização das nascentes irá colaborar muito na construção de programas similares pelos municípios pertencentes à bacia”.
Em Jequitibá, a microbacia escolhida para aplicação da metodologia foi a do Córrego Lagoa Seca. Esta microbacia vem sofrendo impactos antrópicos provenientes por desmatamento, pressão imobiliária e obras mal planejadas – e onde já existe uma iniciativa de dois proprietários rurais em recuperar as nascentes da região, que vem sendo monitorada pela secretaria de Meio Ambiente de Jequitibá.
A visita técnica foi divida em dois momentos: uma prática, na qual foi observada toda a microbacia a fim de catalogar e caracterizar as nascentes, assim como, verificar os pontos de pressões; e uma parte teórica, na qual foi apresentado pelos técnicos das prefeituras de Belo Horizonte e Contagem a metodologia utilizada em seus respectivos programas.
“Esperamos que este seja o primeiro intercâmbio entre os Subcomitês do [CBH Rio das] Velhas, para que as iniciativas exitosas e positivas sejam modelos replicados em outros municípios. Neste sentido, em Jequitibá, após a finalização da caracterização das nascentes, vamos propor um plano de trabalho efetivo para recuperá-las, assim como a criação de um programa de catalogação e preservação de nascentes nas propriedades rurais”, concluiu Poliana Valgas.
Veja fotos do intercâmbio:
Projetos de sucesso identificam nascentes e garantem a vida
Um dos pontos altos da visita foi a apresentação do caminho percorrido até a identificação e preservação de nascentes, cada uma com suas características, em áreas urbanas. Eric Machado, coordenador do Subcomitê Ribeirão Onça e fiscal da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Contagem, falou sobre a experiência de sucesso do Projeto Contagem das Nascentes, ganhador do I Prêmio de Boas Práticas “Salve o Rio São Francisco”, concedido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), na categoria “Poder Público”, em 2017.
“A troca de experiência entre essas regiões, representadas pelos Subcomitês, é importante para entender o que temos de bom e o que está sendo feito de errado. Jequitibá é diferente de nossa região, menos urbanizada e com características diferentes de Contagem e Belo Horizonte. Aqui há um espaço muito grande a ser protegido, mas que ao mesmo tempo já sofre com a expansão urbana”, avalia Eric.
Na visita, ele apontou problemas relativamente graves decorrentes de empreendimentos imobiliários. “São muitos os açudes ilegais, assim como as vias vicinais mal feitas que estão gerando carreamento de material para as nascentes. A expansão urbana sem licenciamento correto está degradando as nascentes do município. É notório que Jequitibá precisa cadastrar suas nascentes para conhecer melhor seu território, que é maravilho em relação à abundância de água”, completa o coordenador.
Outro caso de sucesso, também a ser tomado como exemplo pelo Subcomitê do Ribeirão Jequitibá, é o projeto “Valorização de Nascentes Urbanas”, que culminou com a “Elaboração de Diagnóstico de Nascentes Urbanas na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Onça, em Belo Horizonte/MG”. Do estudo, foi concebido um catálogo com 607 nascentes cadastradas, por meio de um trabalho técnico, com metodologia científica, para caracterizar cada umas dessas fontes e propor ações possíveis para proteção/conservação das mesmas.
Ao fim do encontro, ficou definido que um relatório seria formalizado posteriormente pela coordenação do Subcomitê Ribeirão Onça e encaminhado para os colegas do Ribeirão Jequitibá. Durante o intercâmbio, também foi verificada a necessidade da autuação do empreendimento a fim de conter os impactos e pressões sobre as áreas das nascentes e sanar as irregularidades detectadas.
9º Encontro de Subcomitês
O intercâmbio entre os Subcomitês Ribeirão Onça e Jequitibá ocorreu como resultado do 9º Encontro de Subcomitês do CBH Rio das Velhas, realizado há um ano no distrito de Mocambeiro, em Matozinhos, na UTE (Unidade Territorial Estratégica) Carste. O evento reuniu os representantes das sub-bacias do Rio das Velhas para aprimorar os processos da gestão participativa, trocar experiências sobre os projetos hidroambientais e discutir ações que acontecem nos territórios da bacia hidrográfica.
O intercâmbio entre as entidades planejado na ocasião, e que teve que ser adiado em março deste ano em razão da pandemia do coronavírus, é uma iniciativa que busca aperfeiçoar a gestão dos recursos hídricos por meio da troca de experiências entre os 18 Subcomitês pertencentes ao CBH.
Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto e fotos: Celso Martinelli