Moradores de Ribeirão do Eixo cobram esclarecimentos da Gerdau sobre expansão de mina e seus impactos

28/03/2019 - 13:51

Em reunião extraordinária do Subcomitê Rio Itabirito, realizada na terça-feira (26) em Ribeirão do Eixo, povoado que pertence a Itabirito, a população esteve em peso para ouvir as explicações, questionar e opor a expansão de empreendimento da Gerdau Mineração, que pode acarretar prejuízos ambientais e interferir nos cursos d’água da região.

A última visita da Gerdau no povoado aconteceu há dez anos, quando a empresa implantava a mina Várzea do Lopes, que fica há 7 km de Ribeirão do Eixo. Empreendimento que possui uma cava de onde é retirado o minério e duas pilhas de estéril, locais onde são depositados os materiais retirados da escavação.

A mina Várzea do Lopes fica ao lado do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda unidade de conservação criada a partir do decreto estadual nº 45472, de 21 de setembro de 2010 que detém de mais de 2.372,56 hectares e 85 nascentes em seu interior e, pelo menos, 78 nascentes no seu entorno. O objetivo da criação do Monumento Natural foi para proteger e conservar o patrimônio espeleológico, a conectividade biológica e hidrológica, as nascentes e ressurgências e realizar a conformação de um corredor ecológico entre o Monumento Natural da Serra da Moeda e Estação Ecológica de Aredes.

Veja onde está localizada a mina Várzea do Lopes:

https://www.google.com.br/maps/place/Mina+Varzea+Do+Lopes+Gerdau/@-20.2866809,-43.9387605,632m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xa152aae7395c4b:0x3bd25a6eca1eec4!8m2!3d-20.2866859!4d-43.9365664

Moradores pegos de surpresa

O motivo do novo encontro da Gerdau com a população de Ribeirão do Eixo, depois de dez anos, se deve a uma nova expansão. Dessa vez a empresa pretende implantar a Mina Várzea Lopes Leste Norte, que inclui a construção da Pilha de Estéril 1, que já está em processo de licenciamento, e a construção de uma cava que prevê a produção de 1,5 milhões de toneladas de minério por ano com tratamento a seco. A expansão está prevista para ser construída a 3 km de Ribeirão do Eixo, próxima às margens da BR-040 e do Ribeirão do Silva, um dos cursos d’agua que integra a bacia do Rio Itabirito, afluente do Rio das Velhas.

Surpresos por não terem sido informados em nenhum momento sobre a expansão da empresa, a notícia chegou graças a participação da moradora e conselheira do Subcomitê Rio Itabirito, Lucélia Marina, em uma das reuniões do colegiado, realizada em setembro de 2018. “Ninguém da comunidade estava sabendo de nada dessa expansão. Aquilo foi uma bomba para mim. E eu como representante de Ribeirão do Eixo me deparei com uma situação de um empreendimento daquele porte perante as nossas águas, então eu entendi o que ia acontecer na região”, explica a moradora.

Após a reunião, Lucélia convocou a comunidade para comunicar o que ela tinha presenciado na reunião para que, juntos, tomassem providencias para barrar o empreendimento. “A notícia se espalhou e alguns moradores, após buscarem mais informações sobre a situação, viram que era muito séria”.

População pede explicações da Gerdau

Ao tomar conhecimento de que a expansão do empreendimento seria realizada em cima de nascentes e córregos da região, a população de Ribeirão do Eixo reivindicou uma reunião com a Gerdau, intermediada pelo Subcomitê Rio Itabirito, para que a empresa respondesse a uma série de questionamentos sobre as obras de expansão, seus impactos ambientais e outros dados a respeito das atividades que ela está realizando há anos na região.

Dentro os esclarecimentos solicitados para a empresa, os moradores pediram que ela apresentasse: 1) As licenças das áreas exploradas e para sondagem na Várzea Sul; 2) A licença para empilhamento próximo ao Mirante; 3) A identificação das coordenadas e/ou mapa com as áreas já licenciadas e de pretensão de expansão, detalhes sobre os riscos de carreamento, assoreamento e poluição do Ribeirão do Silva; 4) Os detalhes sobre os riscos de rebaixamento do lençol freático; 5) A apresentação de estratégias para redução de impactos sobre a fauna e a flora e para os impactos paisagísticos relativos às cavas a ceu aberto e equipamentos de empilhamento; 6) A apresentação de estratégias para garantia de segurança e para a redução de impactos (ruído, poeira) nas estradas do município pelo alto fluxo de caminhões transportando o minério extraído entre as minas e a Usina; 7) Detalhes sobre o plano de recuperação das minas, das nascentes e dos corpos hídricos afetados; 8) A apresentação do termo judicial assinado pela Gerdau que confirme compromisso de recuperação das áreas degradadas; 9) Os detalhes sobre o plano de recuperação da área de APP relativa ao Córrego do Estreito; 10) Os detalhes sobre planos para criação de Corredor Ecológico e de outras estratégias para garantir continuidade entre as Unidades de Conservação do Monumento Natural da Serra da Moeda e Estação Ecológica de Aredês.

Durante a reunião, os representantes da Gerdau realizaram uma apresentação trazendo diversas informações sobre o trabalho da empresa e as medidas que ela realiza para minimizar os impactos ambientais de sua atividade minerária. “Para provar que um empreendimento é viável ambientalmente, a empresa tem que prever e estudar todos os impactos decorrentes dessa atividade e propor soluções. E o órgão responsável vai decidir se as medidas são suficientes ou não para conceder uma licença”, explica o geólogo da Gerdau, Milton Pereira Filho, sobre o funcionamento do trabalho e das licenças concedidas. Os representantes também mostraram as ações ambientais que são realizadas pela empresa para reduzir os impactos causados pela atividade de exploração do minério.

Veja as fotos da reunião:

Mesmo respondendo parte das dúvidas dos moradores, muitos ali não saíram satisfeitos da reunião e estão temerosos em relação aos danos que o empreendimento poderia causar no abastecimento de água do povoado. “Quando cheguei em casa fui pensar em cada palavra falada ali e cheguei a conclusão que se for permitido pelos órgãos competentes, dentro de três anos teremos uma mineradora em cima das nossas nascentes. É importante que haja uma atitude rápida e que sejam impedidas até as pesquisas naquela região”, desabafa a moradora Eliane da Silva.

Para Lucimar Correira, que também reside no povoado, a empresa agora está ciente de que a população vai lutar para impedir a continuidade da expansão. “O nosso recado foi dado com responsabilidade, garra e amor ao nosso Ribeirão do Eixo diante da frieza da Gerdau. Mas a luta continua e nos não vamos desistir jamais”.

A moradora Lucélia explicou ainda que a população de Ribeirão do Eixo tem muito amor pelo local e pelas águas que por alí correm. “A briga vai ser grande. Falou que vai mexer nas águas aqui, o povo se mobiliza mesmo e corre atrás. A comunidade não vai aceitar ela mexer nas nossas águas”.

Com o término da reunião ficou acordado que a empresa irá fornecer os documentos e informações que foram novamente solicitados pelos moradores e enviará para o Subcomitê Rio Itabiriro. A entidade deverá encaminhar as informações à população e levará para seu próximo encontro os resultados da reunião extraordinária, que serão analisados pelos conselheiros e, a partir disso, novas decisões deverão ser tomadas.

 

Assessoria de Comunicação CBH Rio das Velhas:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Michelle Parron
Fotos: Michelle Parron